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domingo, 21 de abril de 2013

Bohemian Rhapsody

Bill entrou em casa e foi direto ao banheiro embaixo da escada. Ficou observando a água levar embora a sujeira que não conseguia esconder. Por um minuto deixou-se lembrar o que acabara de fazer e suas conseqüências.
- Senhor Willian Brand'Omir! Onde o senhor esteve esta noite? Já liguei para a polícia! Você está usando drogas! É aquela moça gótica que anda passeando com você por ai....
O alarido estérico de sua mãe, do outro lado da porta o trouxe de volta.
Olhou-se no espelho. Quase dois anos havia se passado. Ele mudara pouco: mais barba, uma ou outra cicatriz, muita dor.
Sim, muita dor, esta estava mais fácil de ver, aquelas rugas ao redor dos olhos, pequenos pés de galinha que não seriam comuns à sua idade, mesmo não sabendo dizer se tinha 17 ou 19. A dor fizera aquilo. Tiros, gritos, choros, decisões difíceis. Tudo acontecera e não acontecera, afinal, apenas passara a noite fora e isso o fazia enlouquecer.
- Willian Brand`Omir, abra esta porta ou...
Ele abriu a porta antes que ela completasse a ameaça.
- Meu deus, o que aconteceu com você? Olhe só os trapos que estão estas roupas! Por onde você andou?
Ele saiu andando sem dar ouvidos e subiu a escada.
- Você está se drogando! Eu vou chamar a polícia, vou te internar num centro de reabilitação! Isso é falta de deus no...
Ele fechou a porta do quarto atrás dele, sem toca-la, sentiu o efeito do paradoxo, mas o que era um pequeno sangramento nasal perto de calar a mãe e faze-la pensar que ALÉM DE TUDO o demônio estava em casa, fechando portas entre eles.
Olhou os velhos posteres na parede, alguns brinquedos antigos e sua velha guitarra. Foi até até o guarda roupa e trocou-se, porém, deixou a camiseta surrada por baixo da roupa limpa. Aquela não acharia em qualquer lugar. Pegou sua guitarra e abriu a porta.
Sua mãe o esperava, segurando a bíblia.
- Em nome do senhor, eu te expulso desta casa, demônio infeliz! Tranca ruas! Sai do meu filho, que não te pertence!
Ele se aproximou, ela levantou a bíblia e só não desferiu um golpe sobre sua cabeça por que ele segurou seu pulso. Ela ofegava, ele parecia em paz.
- Eu vou embora, mãe. E você nunca mais vai me ver!
- Isso é o DEMÔNIO! Sai de dentro do meu filho!
Ele se aproximou ainda mais e beijou sua testa:
- Mãe, não há nada aqui dentro... nada. Nenhum demônio... só aqueles que eu alimentei...
Ele não conseguiu falar mais nada, apenas deixou-se cair inerte. Ele a segura nos braços, levanta-a e carrega-a até o quarto, deixando-a sobre a cama.
Afasta-se silenciosamente, como que para evitar que ela acorde. Desce as escadas e sente os transmissores por toda a casa. Sorri, levanta as mãos e, estalando os dedos, faz todos explodirem, deixando uma pequena mancha negra em cada ponto antes escondido. Segura sua guitarra contra o peito durante alguns instantes e depois sai pela por ta da frente, sem olhar para trás.
Cristy o esperava na esquina, fumando um cigarro enquanto ele pensava que sem dúvida MISFITS era o melhor nome que poderiam escolher.


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