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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

BlackOut

O telefone tocou, Samantha levantou-se da mesa do jantar e atendeu “alo?”, mas ninguém respondeu do outro lado. “Alo? Não estou te escutando!”. Seguiu-se apenas um chiado estranho. Ela desligou. Assim como sua vizinha Patrícia desligou. Assim como Edson desligou no mesmo andar, após sair correndo do banho.
Fernando não atendeu, pois estava tentando fazer a tv voltar a funcionar. Estranhamente ela saiu do ar, mostrando apenas o característico chuvisco, em lugar da tela azul.
Helena esperava pelo fim da novela, mas o que assistiu foi o chuvisco, Dr. Mario esperava por um telefonema do hospital, mas a estática só o deixou mais preocupado. Quando Francine, a enfermeira, tentou ligar para o Doutor, não havia linha, apenas chiado, tanto no telefone fixo quanto no móvel.
Josemar, Claudia e Celeste tiveram suas ligações cortadas pelo chiado, um falava de futebol com um amigo, a outra com o amante e a outra com a amante. Crispim xingou e jogou o celular na parede quando sua ligação foi interrompida, era uma grande negociação de 200 kg de haxixe que ia pelo ralo. Gustavo sorriu, pois sabia quem era, após olhar para o telefone público que tocava sem parar. Maria atendeu “José?”, mas apenas o chiado respondeu. “Está no cinema esta hora.”, pensou. A atendente policial que respondia a uma chamada de emergência pelo rádio, ficou falando sozinha, enquanto do outro lado a telefonista em pânico tentava outros meios, em vão, de alerta-la. O bombeiro não pode ser chamado. O veterinário e a prostituta também não. E assim, cada telefone da grande São Paulo tocou, seguido de um ruído estranho que apenas os ouvidos certos sabiam identificar. Os televisores fora do ar chiavam a mesma mensagem, assim como os monitores, os rádios amadores, as rádios e a própria estática que saia das caixas de som dos computadores. Aquela voz, aos ouvidos de poucos dizia: Me deem o que foi roubado que vos perdoo...Me deem o que foi roubado que vos perdoo...Me deem o que foi roubado que vos perdoo...Me deem o que foi roubado que vos perdoo...Me deem o que foi roubado que vos perdoo...Me deem o que foi roubado que vos perdoo...

Atenção Senhores Passageiros

-         Sr Jair?
-         Sim!? – Respondeu ele nervoso.
-         O sr deve nos acompanhar até a sala de imigração, por favor.
-         Por que? O que eu fiz?
Os dois homens se entreolharam sem expressão alguma no rosto e responderam simultaneamente em coro:
-         Há um recado para o senhor...
O rapaz seguiu os dois capangas desconfiado, arrastando sua mochila de viagem. Deixaram-lhe em uma sala vazia, exceto por uma cadeira e um aparelho de televisão, sobre uma pequena mesa. No momento em que ele se sentou, a tv, como que por mágica, ligou-se sozinha.
      A voz que ele escutou era familiar...

sábado, 23 de novembro de 2013

More Human than Human

LONGINUS
(Gabriel da Silva, o mendigo)

"É que sempre me disseram o que fazer..."


"Tem um trocado ai?!"






O SALVAVIDAS 
(Jorge Galdino, o bombeiro)


"Eu tinha um emprego, uma namorada, um carro e tudo... tudo era perfeitamente normal, sem suspeitas... Até eu perguntar por que?..."


"Camon baby light my fire..."






BALA DE PRATA
(Nichole Fisher, a tira da pesada)
"Eu vou ter com ela..."


"Eu sou da delegacia da mulher e estou fazendo uma investigação extra-oficial. Você poderia me ajudar?"


"Você é ótima! Nossa... luminosa! Tá de Pa-ra-béns!"






VELOZ
(Eduardo Pizatto, o bandido)


"Te espero na chegada."



"Lembra da história do coelho e da tartaruga? Eu dei a largada e a bandeirada final, bebê..."










More Human than Human

terça-feira, 19 de novembro de 2013

No metrô

Os dois homens de terno caminharam para fora do armário sem pressa, tentando intimidar seu oponente. Uma tentativa desesperada da máquina de reaver seu Anjo com defeito e levá-lo para uma revisão completa. Não era a primeira vez que Adão enfrentava aqueles seres sem rosto, eles eram  mandados sempre que a situação pedia alguma interferência, mas não era possível que um Anjo atendesse o chamado imediatamente.
O padre respirou fundo e jogou o primeiro deles em direção aos trilhos, apenas com o gesto de sua mão, deixando que o trem se encarregasse de fazer o resto do serviço. Olhou para baixo, se certificando de que o mendigo se encontrava em segurança e atacou o segundo oponente a socos e pontapés. 
A luta se estendia, o homem parecia não sentir os golpes, porém desferia impiedosamente golpes que já haviam acertado o peito e rosto de Adão, que evocou sua forma Apocalíptica, sem se atentar a dois vigias que observavam a cena aos pés da escadaria, atônitos ao ver a imagem de um anjo de asas enormes, vestido de uma armadura impecavelmente branca.
Nesta forma, Adão conseguiu derrubar o homem, que permaneceu imóvel até que o pegasse pelo colarinho e o arrastasse até a porta do armário, abrindo-a.
- Diga para ele que não temos medo – disse, segurando o “rosto” do homem bem próximo ao seu. -  Diga para ele que estamos juntos. Diga para ele que desta vez tudo vai ser diferente.

Arremessou o corpo para dentro do armário, fechou-o. Caminhou até o corpo do mendigo no chão, colocou-o nos ombros e caminhou até a escadaria, enquanto se transformava novamente em humano, diante dos olhares perplexos dos vigias, que não diziam uma única palavra.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Deus ex machina


Não existe desastre
Existe o deus Máquina
Não existe fortuna
Existe o deus Máquina
Não existe destino
Existe o deus Máquina
Não existe vontade
Existe o deus Máquina
Não existo
Existe em mim o deus Máquina

Eu já fui um anjo.
Minha primeira lembrança é do deus Máquina: as luzes piscando, o frio de sua presença e a incerteza do destino. Ele me disse o que fazer, me deu as ferramentas para fazê-lo e obedeci sem pensar, este era meu propósito.

Egito, 1500 AC
Ele me acordou no nascer do sol e ordenou que avisasse seu povo que deveriam sacrificar um cordeiro, o mais bonito deles, e que com seu sangue marcassem seus umbrais, para afastar a última praga. Naquela noite todos os primogênitos foram mortos e somente hoje enxergo seu sangue em minhas mãos.

Após completar meu destino, fui colocado em uma caixa e lá aguardei pelos desígnios D’ele. Encarnei novamente e de novo e de novo e mais uma vez. Sempre cumprindo fielmente seu comando. Poucas vezes cruzei com outros como eu, parece que Ele cuidava minuciosamente para que isso não acontecesse. Hoje eu sei o por quê.

Londres,  1897
Como designado, observei-a de longe. Esperei que saísse do café, onde trabalhava todos os dias. Cheguei perto e falei banalidades. Ela estranhou. Sussurrei em seu ouvido o que ela deveria fazer. Assisti-a subir no prédio e se jogar lá de cima. Naquela noite, seu marido, o chefe de polícia, não foi trabalhar e houve uma fuga em massa.

São Paulo, 1979
Já estava naquela encarnação fazia algum tempo. Dormia tranqüilo enquanto os planos se concretizavam. Fui desperto por um telefonema: o alvo deveria ser liberto. Missão arriscada e cheia de detalhes. Mais dois anjos envolvidos para facilitar minha entrada. Um, dois, três guardas derrubados. Ela se encontrava num pau de arara. Libertei-a e a ajudei a fugir entrando na frente dos tiros na perseguição pelas ruas.


O que está em cima deve cair, o que caiu pode elevar-se novamente