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domingo, 29 de maio de 2011

O Pesadelo de Galo

Diana andou em volta da cadeira, como se apreciasse uma presa indefesa.

- Tem sido um garoto muito, muito mau, Galo...
Ele não conseguia se mexer, sentia o espaço paralisado em torno de si.
- Você vai ficar aqui por muito, MUITO tempo! - Ela sorriu, deixou a xícara de café sobre a mesa e saiu da cozinha.
Ele a escutou se afastando, seus saltos faziam barulhos no piso. Ouviu a porta abrir e se fechar. Estava sozinho.
"Está tudo na sua cabeça, Galo idiota!" ele pensou. "É obvio que você não esta em seu apartamento em POA! É obvio que ela não estava aqui. Isso é só uma ilusão!"

Horas se passaram, ele não conseguiu se mover...

Horas se passaram, ele não conseguiu se convencer de que era real...

Horas se passaram, GRITOU

Defecou...

O cheiro nauseabundo atingiu suas narinas e, junto com ele veio uma risada maléfica, cheia de escárnio. Ela ria dele, ela o observava. Ela nunca saíra dali. Ele NUNCA saíra dali. Assis nunca existira.
Nunca existira Ravage, Nunca existiram os SETE
Era real... era real...
Suas energias se extinguiam enquanto suava frio, pensando em tudo o que não acontecera. Todo sofrimento, toda a amizade, toda dor. Eles nunca existiram...Desacordou...


Acordou livre das amarras de espaço de Diana... respirou aliviado...  a lembrança do sonho ruim com dezenas de magos hostis  estava distante..não era real.
Levantou-se... foi até o banheiro e tomou um banho demorado... deixando que a água levasse para longe suas fantasias doentias.
Para o ralo escorreram Caleb, Adonis, Vampiros, Kali, Lobisomens, Renan, Mercedez, os 7, Ravage...
Criou outra mente, deixou os pensamentos ruins com ela.
Precisava de ar...
Colocou uma roupa limpa, passada, cheirando a amaciante... sentiu-se seguro...
Saiu do apartamento, chamou o elevador... a música clássica que tocava acalmava seus ânimos.
Chegou a sorrir olhando para o espelho do elevador: quanta bobagem. Ela quase o enganara com esta história de Dragão, de Irmandades, Zumbís...

A porta abriu...saiu pelo hall do prédio.

O porteiro não estava.

Abriu o portão, andou pela calçada, andou pela rua, andou pelo bairro...

Era o único habitante de uma Porto Alegre completamente vazia...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Em volta da Fogueira...

- O totem quer que a gente mate eles!
- É obvio que a gente vai matá eles!
- Fácil falar, quero ver fazer! Ou vocês acham que também não quero? Ou vocês acham que não quero vingar a Nuvem Rosa e o Asfalto quente?
- Nós os pegaremos... só precisamos fazer a emboscada certa, no lugar certo, Raposa Veloz.
- Mas, Touro branco, como? Se eles vieram até aqui e fizeram tudo isso o dragão deve estar ajudando eles!
- Se o dragão os tivesse ajudado, o Totem não estaria mais em pé. Talvez nenhum de nós mais estivesse. Foi alguma outra coisa, uma coisa muito má...
- É, nunca vi dragões rançarem coração e comerem carne de lobo...
- Contenha-se Coruja triste, não lembremos de nossos companheiros desta maneira...
- Desculpe, Touro... mas é que não consigo entender por que os 7 magi estão dividindo o lugar com aqueles 4. Tudo estava bem antes.
- Não nos importa isso, Coruja. O que importa é que o espírito do dragão está ligado aos 4 e o Totem quer que destruamos o dragão. Os 4 se meteram entre nós e o loci, pagarão por isso e pelos nossos irmãos que morreram em batalha.
- O loci já era nosso muito antes deles ou mesmo do dragão chegar aqui.
- Nós os esmagaremos e aprisionaremos seus espíritos serão alimento para o Totem, Raposa!
- Vamos pedir ajuda pros lobos do norte, Touro?
- Só em ultimo caso, Coruja. Não queremos que nosso Totem pense que somos incapazes de lidar com esta situação.

O velho olhou em direção ao fogo e sem querer amedrontar os mais novos, pensou que a situação já estava fora de controle há muito...

domingo, 15 de maio de 2011

Algo mais forte...

Diana se jogou no sofá e bufou. O dia mal começara e já tivera a primeira má notícia. Mayra ficou de pé em sua frente, sem dizer nada por alguns segundos, imaginando o que poderia fazer para remediar a situação.
- Posso te trazer um chá? Vai te deixar mais calma, tranqüila...
Diana olhou para ela com cara de deboche:
-Você não tem nada mais forte?!
- São 11 da manhã, Di. Além do mais, sabe que eu não bebo e que não tenho nada alcoólico aqui em casa.
Diana bufou novamente, às vezes a bondade e sutileza de Mayra a irritava. Jogou o cabelo loiro para trás.
-Você sabia que os mais velhos não iriam ajudar os quatro. Não sei por que está tão surpresa, Di.
- Não é este o caso, Mayra! Não entende, porra? To me sentindo jogava nas mãos deles, como uma boneca! Eles dizem o que a gente pode ou não fazer! Nunca foi assim... só ultimamente.. agora que Inês...
- Paulo! Você sabe! O nome dela é Paulo agora!
Diana olhou para ela desanimadamente, estava a ponto de perder a paciência.
- Tem certeza de que não tem nada mais forte ai?!
A amiga fez um olhar de desculpas e deu com os ombros. Mais alguns segundos se passaram sem que nenhuma das duas dissesse uma única palavra.
- Eles nos ajudaram, Mayra! Eles deixaram a gente pegar mana para salvar o doido!
- Isso não quer dizer que devamos arriscar nossas vidas por eles, Di!
- Você acha mesmo que 7 lobisomens são páreos pra Inês, Coveiro e... – foi interrompida.
- Paulo... ela já nos disse que o nome dela é Paulo!
Diana riu pelo canto da boca, índia idiota, pensou.
- Sim, é bom fazermos exatamente o que Paulo quer. Mas... não sei se quero viver pra sempre. Aliás, não sei se vale a pena passar por tudo isso...
- Você pode abdicar, se acha que não dá, que não quer, sempre resta isso! 
- Mayra, largue de ser idiota, POR FAVOR! Não viram o que fizeram com o Logiko? Não sabe que NÃO TEMOS esta opção? A rosa é pra sempre! Afinal fizemos um acordo com a velha, que não se dignifica a morrer, como qualquer outra pessoa na face da terra já estaria disposta com sei-lá-quantos-anos ela tem!
Mayra ficou quieta diante da explosão da amiga, não era boa ao lidar com explosões ou situações estressantes. O mais fácil era sempre esperar e ver o que lhe resta, esperar e ver se não sobra para você.
- O Combantente matou o Logiko e o Combatente vai matar a gente também se falarmos em sair. Eles precisam de nós pro ritual. Se sairmos somos apenas uma fonte perigosa de informação pros “inimigos”.
Diana levantou, caminhou até a mesa e pegou a chave de sua moto, juntamente com o capacete. Mayra cruzou os braços sobre o peito e disparou:
- Você diz isso por que você está apaixonada por um deles! Só por isso você está comprando esta briga toda!
Diana chegou a levantar o capacete com intenção de arremessá-lo, mas se segurou, abaixando-o juntamente com sua cabeça, como se tirasse do seu peito angustias que não queria revelar, bufou novamente.
- Não acha estranho que também o doido tenha quase sido morto, logo após deixar bem claro que não estava nada contente com o que Inês fez com corpo do filho dele? E agora ele se levanta, contando uma historia desconexa da qual só se lembra em partes?
Abriu a porta e deixou o cômodo.
- Paulo, o nome dele é...
Quando Mayra terminou a frase Diana já montava em sua moto e dava partida. Não podia ser a única a enxergar o que estava ocorrendo. Não podia ser a única a desconfiar que algo a mais estava acontecendo. O que fazer? Em quem confiar? Quem estava a salvo da manipulação de Inês e dos outros dois? Quem estava a salvo do medo que eles impunham ao deixar bem claro as dezenas de dezenas de anos que eles tinham de experiência? O telefone tocou, Diana apertou o botão do fone de ouvido.
- Adônis?... Sim, estou indo praí, me esperem.
E rumou em direção da academia. 
Precisava de algo mais forte.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Alguns minutos antes...

Nós podemos fazer isso, falou o jovem. Observava pela janela a pequena multidão que se aglomerava para entrar pela apertada porta do salão. Pegou sua jaqueta de couro, seu nome estava bordado nela com fios dourados, olhou-se mais uma vez no espelho.
- Nós estamos bem.- Sorriu enquanto falava pelo canto da boca. Ajeitou a coroa. – Será que os 4 vem? Claro que sim, a garota foi enviada! Boa garota aquela, nós escolhemos bem. Ela servirá a todos os propósitos. – Ele sorriu – Eu gosto dela... – um riso de escárnio – Claro que você gosta dela, você fode a vadia!
Abriu a porta do quarto e desceu, seus amigos o esperavam no andar inferior. Estes ajoelharam-se quando escutaram o ruído dos degraus da escada.
A sua benção, pediram, e Ele pousou a mão sobre suas cabeças. Bem aventurados sejam os de coração nobre.
Ele espiou pela janela, as pessoas entravam no galpão, cada qual carregando sua garrafa de água.
- Prestem atenção em minhas palavras. Haverão quatro pessoas aqui hoje – e deu a descrição – quero que os respeitem e sejam completamente cordiais, mesmo que eles reajam de maneira intempestiva. Eles são muito importantes para o Nosso plano.
Os homens permaneceram de cabeças baixas, sabiam que o silêncio era sinal de aquiescência.
Virou-se e todos o seguiram através do jardim que separava a casa do galpão. Eles estavam preocupados, não havia dúvida, mas precisava correr o risco.
- É hora do show, disse baixinho quando escutou que a música explodia pelos alto falantes.
O ministro gritava ao microfone, como um doido, sobre o palco. Centenas de olhos se viraram em direção à porta, quando ele proclamou:
_ Eis Caleeeeebbbbb o Nosso Senhorrrrrrrr! 
Era uma igreja, 
era um circo, 
era um show de rock...
Gritem por eleeeee! Griiiiiitem por eleeeeee!

O Sacrifício

Trazia consigo a bacia de prata e a promessa de que aquela seria a última vez. Caminhava com cuidado para que a oferenda não caísse e salpicasse sua roupa branca, além de um total desrespeito ao Espírito, manchas de sangue são difíceis de tirar, pensou.
Chegou ao local, escutava as irmãs atrás de si, também excitadas pelo encontro. Levantou a bacia acima de sua cabeça e chamou pelo nome do Espírito. Sentiu o dromo sendo rasgado, como se uma jamanta estivesse passando por ele, o que, na verdade, não era tão diferente. Podia ouvir os espíritos da pedreira zunindo e gritando, diante do estardalhaço que o dragão fazia ao se manifestar no mundo físico.
Ele apareceu...
Ela abaixou a cabeça em sinal de respeito...
Ao voltar seus olhos para o dragão sentiu a lâmina de prata degolá-la...
Se não fosse rápida e já habituada ao mundo espiritual ele certamente a teria consumido, como se fosse carne. Mas ali, nas sombras, ela era rápida e forte o suficiente para escapar, embora não inteira. O dragão sorvera parte de sua essência, toda que ali estava, mas ainda restava algo não muito longe dali. Nunca imaginara que aquilo poderia salva-la...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O fugitivo, parte 1

simEste post é um texto de apoio a Crônica de RPG: A irmandade da rosa.


_ Você não deveria ter feito o que fez, Theodoro.
Dizia o homem alto enquanto raspava a adaga na parede, fazendo com que solta faíscas pelo atrito. Sabia que Theodoro o observava, as faíscas eram apenas para instigar mais medo.
Podia sentir através do espaço o esforço que ele fazia para esconder-se nas sombras atrás de um carro velho. Já havia feito magia demais, o paradoxo o seguia. Não era fácil escapar dO Combatente por quaisquer que fossem os meios.
Ouviu um barulho do outro lado do estacionamento, por um momento chegou a olhar naquela direção, mas se tocou que era apenas mais um truque através da ressonância que o paradoxo deixou ao ferir o rapaz que lançara o feitiço atrás do carro.
Resolveu brincar de gato e rato.
_ Você não deveria ter atraído o cara pra Assis. Agora ele não vai embora até matar um a um. Ele não vai embora até achar você!
Fingiu acreditar no falso ruído e começou a se dirigir sorrateiramente até o outro lado da construção. Um murmúrio indistinguível saiu de seus lábios enquanto executava gestos ligeira e sorrateiramente com a mão direita. Sentiu que ele modificara a realidade novamente: forças, pensou. Estava jogando para longe os ruídos que produzia ao correr em direção à saída.
Era uma corrida desenfreada, pois Theodoro sabia que corria pela vida. Sabia que ninguém escapava dos 7, não com aquela tatuagem. Tentara tira-la ainda no Brasil, mas não conseguira. Retirou a tinta, mas, na noite passada, quando sentiu a pele queimar, sabia que a marca ia muito mais fundo do que a epiderme. Estava marcado pela alma, ouvira sussurros inaudíveis do Coveiro.
Mais alguns metros e estaria livre, pensou o fugitivo, mais alguns metros e poderia correr pelas ruas movimentadas de Buenos Aires até se ver livre, longe o suficiente para que nenhum deles pudesse encontrá-lo, arrancaria fora o braço se preciso.
Onde estava o portão? Onde estava a saída?
 _ Filho da puta!
A porra da saída havia desaparecido...

terça-feira, 3 de maio de 2011

A irmandade da Rosa

Em um quarto no hospital psiquiátrico.

Bateu o restante da espuma da navalha na tigela de porcelana. O ritual se repetia mais uma vez, segurava o rosto, firme, porém com delicadeza, a lâmina recém afiada não deixava um único fio para trás. Lembrava do tempo no qual ele ainda não tinha sequer a penugem que agora cobria o queixo. Tempo passado, tempo perdido. Dois anos? Dez anos? Qual a diferença? Ele nunca os teria de volta.
_ Não deixarei que ela faça isso com você. Não deixarei. Você pode voltar um dia, sei que pode.
Bateu mais uma vez a navalha.
Escutava os gritos distantes no corredor.
Tinha medo de um dia ter de voltar a ficar preso ali, a simples lembrança lhe embrulhava o estômago. O despertar desamarrara todas as camisas de força: soube imediatamente o que dizer, como se comportar. Não demorou a sair e voltar para sua família, embora já o estivesse fazendo em sonhos há um bom tempo e os danos eram irreparáveis.
Não o queria ali, não como ele.
_ Você vai acordar... eu sei que vai... ela que arranje outro!
Pegou uma toalha de rosto, abandonada sobre a cabeceira da cama, pôs-se a limpar o restante da espuma.
_ Ela que apodreça naquele escafandro...