Pages

segunda-feira, 5 de março de 2012

Terra dos ladinos

Pararam a caminhonete em frente aos portões, fazendo a poeira levantar. Tinham viajado 2 horas até ali, tomado 12 latas de cerveja e falado muita besteira sobre como iam pular aqueles muros. Mas ali, na madrugada, tudo era diferente.
Roger não era dos mais valentes, mas com algumas cervejas era capaz de se meter em encrencas. Fora ele que propusera irem até lá, naquela cidade que ninguém lembra o nome, que está abandonada há tanto tempo que ninguém lembra, com um propósito há muito esquecido.
- Não vai fraquejar agora, vai? - perguntou o outro
- Ta doido? Vou até a tal gruta pegar o ouro que falaram!
- A questão é: como vamos escalar esta porra?
O outro o cutucou com o cotovelo e mostrou o portão:
- Tá só encostado, parece!
- Os caras que vieram aqui e nunca voltaram devem ter aberto... mas cadê o carro deles?
Os dois pegaram lanternas e encaminharam-se para dentro. Logo na entrada, haviam dois carros parados, com as portas abertas.
- Algo ai? - perguntou Roger assustado para o outro que vasculhava o carro mais próximo.
- Chave no contato, cara! Dá pra acreditar?
- Acreditar no que?
O outro desceu do carro e apontou a lanterna para Roger:
- Como assim do que? Do... do...
- Hey, não aponte esta coisa pra mim, ta me cegando.
- Que coisa?
- Isso ai.. a.. hum.. qual é o nome mesmo?
- Do que você tá falando cara? Quem é você?
- Como assim quem sou eu? O que você está fazendo aqui?
- Eu to aqui, qual o problema? É sua casa por acaso?
Ele olhou em volta:
- Não sei. Não sei onde estou e nem como cheguei aqui...
- Aqui onde?
E esta conversa se estendeu até que as lanternas se apagaram, fazendo com que cada um ladinos se afastasse e procurasse um canto escuro para se esconder de algo que não lembravam o que era, mas estava ali, desde que chegaram, apenas a observar.

Os homens

Ele estava deitado sobre uma maca, enquanto o rapaz pousava suas mãos alguns centímetros acima de seu corpo. Das mãos saiam feixes de luz roxa. O rapaz o "mapeava" se é que existe uma palavra para o que ele estava fazendo, vasculhando seu corpo, suas células... indo cada vez mais profundamente, até seu DNA à procura.
- Eu não tenho como agradecer o suficiente, Oliver.
O rapaz riu timidamente.
- Você me deu seu apartamento, Rick. Todo o serviço já está mais do que pago. Assim pude sair daquela casa e posso fazer as coisas do meu jeito agora.
O rapaz continuou, da cabeça aos pés, iluminando o homem deitado.
- Sim, está limpo. Acho que podemos dizer que é definitivo agora. Já faz um ano.
Richard agarrou sua mão:
- Tem certeza? Você olhou fundo?
Ele sorriu:
- Sim, olhei. E digo mais, acredito que mesmo que aqueles caras tentassem de transformar novamente, não conseguiriam, o sangue da Lauren é muito forte. Pelos testes que fiz em ratos, não consegui infecção contaminando a cobaia com sangue vampírico, depois de trocar o sangue da cobaia pelo seu.
O rapaz andou até o outro canto da sala e levantou uma gaiola, onde um rato branco corria em uma pequena roda-gigante.
O homem levantou-se e começou a se vestir, enquanto conversavam.
- Recebeu alguma notícia dela?
O rapaz apenas baixou a gaiola e acenou negativamente com a cabeça. "E você?" murmurou, embora ja soubesse a resposta.
- Não, já faz seis meses desde que ela apareceu. Eu te contei, não? Ela veio voando...
- Sim, contou Rick. Ela voou até a janela do seu quarto, como um anjo.
Richard se tocou que era a milésima vez que falava sobre aquilo com o garoto. Não tinha mais ninguém para compartilhar, não podia contar a ninguém. Era um homem normal, tocado pelo sobrenatural. Sua vida nunca mais seria a mesma e não tinha absolutamente ninguém com quem compartilhar isso além de Oliver. Baixou a cabeça e segurou as lágrimas. Lauren deixara mais que um buraco em seu coração, ela o movia, bombeava... podia senti-la longe, sozinha e triste.  As vezes ela aparecia em seus sonhos e dizia que estava tudo bem. mas não era o suficiente.
- Richard, você tá bem cara?
Ele fez que sim com a cabeça e levantou-se, colocando o casaco, nevava lá fora.
- Richard, quanto mais cedo você aceitar que... ela não vai voltar, melhor. Pelo menos não da maneira que você a conheceu. Ela não é mais humana.. não tem como...
Richard pegou as chaves do carro e caminhou até a porta e disse enquanto abria a porta e saia.
- E você... é humano, Oliver?
Oliver suspirou enquanto a porta se fechava, olhou para o rato, tateou pelo celular no bolso mas foi encontra-lo apenas no aparador. Discou o número do contato do hemocentro: tinha um vampiro para alimentar em seu porão.