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terça-feira, 3 de maio de 2011

A irmandade da Rosa

Em um quarto no hospital psiquiátrico.

Bateu o restante da espuma da navalha na tigela de porcelana. O ritual se repetia mais uma vez, segurava o rosto, firme, porém com delicadeza, a lâmina recém afiada não deixava um único fio para trás. Lembrava do tempo no qual ele ainda não tinha sequer a penugem que agora cobria o queixo. Tempo passado, tempo perdido. Dois anos? Dez anos? Qual a diferença? Ele nunca os teria de volta.
_ Não deixarei que ela faça isso com você. Não deixarei. Você pode voltar um dia, sei que pode.
Bateu mais uma vez a navalha.
Escutava os gritos distantes no corredor.
Tinha medo de um dia ter de voltar a ficar preso ali, a simples lembrança lhe embrulhava o estômago. O despertar desamarrara todas as camisas de força: soube imediatamente o que dizer, como se comportar. Não demorou a sair e voltar para sua família, embora já o estivesse fazendo em sonhos há um bom tempo e os danos eram irreparáveis.
Não o queria ali, não como ele.
_ Você vai acordar... eu sei que vai... ela que arranje outro!
Pegou uma toalha de rosto, abandonada sobre a cabeceira da cama, pôs-se a limpar o restante da espuma.
_ Ela que apodreça naquele escafandro...

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