Paganismo, bruxaria e águias

Texto de minha amiga Katy Frisvold, retirado de: http://www.diablerie.com.br/2011/04/bruxo-pop.html

"Imagine um mundo de bruxos!

Acho que alguns imaginariam um mundo como o do Harry Potter, com suas pequenas maravilhas e vantagens sobre o mundinho “pasteurizado” dos “trouxas”. Parece um ideal, mas leia isto cuidadosamente para observar que nada muda na equação: há aqui um conflito gerado por uma massa e uma minoria que vai ficar à margem. Os “trouxas” seriam os estranhos, os anormais, e não raro uma criança bruxa procuraria os “trouxas” para aprender seus valores materialistas e modo de vida simples e plano. Também não muda a moral da história: o oprimido se torna o opressor muito facilmente. Mas até agora falamos de um mundo virtual, imaginário.

No mundo real, bruxas são as figuras estranhas, com interesses estranhos, um pouco aéreas ou “lunáticas” (um trocadilho intencional). À sociedade, somos conselheiros natos e geralmente tomamos consciência disso desde pequenos. Nossa perspectiva é sempre vívida e única – o que para alguns se traduz em estranheza.

Esta estranheza surge logo nos primeiros anos de vida: amigos (nada) “imaginários”, dificuldade para pegar no sono, com direito a visões fantásticas e fantasmagóricas. Sempre na beira do que a sociedade preocupada diria insanidade. Seixos lançados aos rios cantam melodias, as nuvens que borram o céu sempre têm uma mensagem velada e a Via Láctea é sempre o maior espetáculo da terra. “Brinca-se” do jogo do copo sem ter idéia que esta é uma tábua ouija tão boa quanto qualquer uma, invocando e banindo, desafiando a ordem dita “natural”. Na adolescência esta figura se interessa mais pelo passado de sua própria família, em especial das esquisitices, das manias e até sobre a religião dos seus ancestrais. Poucos possuem dados precisos, pois geralmente estas lembranças estão perdidas nas brumas da curta memória que se lega atualmente aos ancestrais.

Alguns se ocupam com a negação, jogado tudo isto no fundo da mente, entre a crença e descrença, enquanto outros procuram pesquisar estes bizarros interesses e acontecimentos no material disponível em livros e internet, ou ainda buscam outras “sendas espirituais”. Filosofias de vida, perspectivas diferentes de mundo, religiões e um sem número de teorias de gente que diz ter a receita para ser feliz. Não é fácil distinguir o mestre do trapaceiro.

Mas o fato é que um bruxo não nasce sabendo que é um bruxo. Um bruxo se descobre bruxo pesquisando muito sobre si, ou é descoberto por outro. Ele vai aprender o Ofício, com toda a Tradição inerente a ele – ou não, como é o caso de muitos que escolheram fazer uso puramente de suas intuições, ou se adentraram nas religiões Pagãs ou Neopagãs. Já um bruxo que hoje se denomina “Tradicional”, via de regra bebe na fonte da Tradição, que em última instância o trará uma visão universalista, pacifista e sintonizada com a boa fortuna, que é direito dos felizes garantido pelo Bom Povo, da maneira em que aprendemos com os mais velhos.

Um Bruxo Tradicional amplia seus horizontes para a sabedoria de acordo com o tamanho de seu mundo, e por isso aprende que os maiores limites são aqueles gerados pela falta de respeito.

Preconceito é o “pré”-“conceito” que todos nós temos. Mas temos também pré-conceitos que são bons, úteis e relevantes à nossa sobrevivência, pois este é o resultado da nossa capacidade de avaliação. Ou seja, um “preconceito” pode ser bom ou mal dependendo de sua serventia. A falta de respeito por outro lado, é, de fato, o maior gerador de todas as infelicidades humanas.

Já reparou que inúmeras bandeiras contra o preconceito são erguidas, mas nenhuma a favor do respeito pura e simplesmente?

Penso que conversar sobre respeito é excelente – mas o que é respeito? Será mesmo que todos nós somos plenamente conscientes do que é isto?

Respeito é a atitude de honrar a si e aos outros. A completa compreensão do respeito sempre se reflete na maneira em que falamos e agimos em relação aos outros, aceitando que todos nós somos como as estrelas, com nosso próprio brilho e coloração.

Há uma expressão na língua crioula que diz: “Para se seguir junto, quando a vida é difícil, as pessoas devem se apoiar umas as outras.”Cada um tem seu papel no mundo, e juntos somos capazes de maravilhas. Agora, é surreal – ao menos para mim - que dentre estes poucos estranhos alguns pensem em “massificar” ou “oficializar” a Arte que os levou a compreenderem-se melhor, que demandem reconhecimento “oficial” enquanto poderiam ensinar ao mundo o respeito. Eu aprendi que respeito é algo a ser conquistado e não imposto.

Talvez ninguém se lembre disso porque este é um trabalho lento, de tijolo por tijolo, e primeiramente dentro de nós mesmos, respeitando a necessidade de tempo e espaço de cada um, respeitando os outros da maneira que nós mesmos merecemos, e acima de tudo respeitando a sabedoria dos mais velhos e dos mais vividos.

Bruxos devem ser os primeiros a respeitar para que possam se transformar em multiplicadores. Na hemorragia causada pela falta de respeito aos “estranhos” as religiões institucionalizadas perecem ou se mantém bambas, fundadas sobre uma multidão de interessados pelo perdão imediato da conversão. Bruxos são crias de um mundo que não aceita a magia como sua realidade. Sempre existimos e sempre existiremos enquanto o mundo não mudar “por dentro”, e daí então poderemos parar de nos preocupar a “galhada” que nos dão.

Enquanto caminho transformando-me e transformando o mundo ao meu redor, alguns alinham seus ombros aos meus: não contra algo ou a alguém, mas a favor do mundo, mesmo que ele ainda não tenha aprendido a nos respeitar. Somos poucos, mas aos poucos nos multiplicamos pelas vias do amor e do respeito. Até que o mundo viva tudo o que tiver que viver até aprender o respeito, a Arte ainda é aArte das Indomadas."

Hoje, ao aplicar Reiki vi uma águia. O que quer dizer?