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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Velhos Amigos

Texto de apoio a crônica A Irmandade da Rosa.


Ele atendeu o telefone enquanto ainda escutava o barulho da maquina moendo, torcendo e despedaçando a carne. Os ossos faziam ruídos ocos ao quebrarem e serem arrastados para as entranhas do animal.
Ele já conhecia aquela voz. Há muito não a ouvia. Esforçou-se para parecer frio e sem vida, enquanto seus olhos expressavam o mais profundo ódio.
- Quanto tempo, não?
- Sim, muito. Não esperava sua ligação.
- Senti saudades.
O animal agora vinha em sua direção, balançando a cauda.
- Tenho certeza que sim. – Acariciou Ravage com a mão livre, levantou-se e começou a caminhar rapidamente pelo estacionamento escuro. – Mas não ligou apenas para escutar minha voz, não é?
Um segundo de hesitação correu do outro lado da linha, tempo o suficiente para que ele lembrasse de tudo o que já tinha ocorrido entre eles. Seis? Oito anos? Onde aquele pirralho havia se metido?
- Vem me pegar... – respondeu a voz do outro lado, seguindo do barulho de vento forte e depois de algo afundando na água.
- Alô? Alô?
Correu em direção ao furgão, desligou o alarme. Ravage entrou em sua companhia pela porta de trás.
- Merda! Merda! Merda! Rápido! – dizia ele enquanto o computador na traseira do veículo acessava as informações do telefone.
Quanto tempo tinha? Demoraria um minuto para rastrear a ligação, mas devido aos sons que escutara não acreditava que dispunha de tanto. Talvez trinta segundos até que o celular se desligasse sozinho dentro d’água, ou menos.
- Merda! Porra! VAI! – Gritava ele nervoso enquanto chutava a lataria do furgão.
Mas a conexão não se perdeu, na verdade ela durou por ainda mais 40 minutos. Ele pode pegar todas as informações que queria do celular: localização exata, agenda, notas, ultimas ligações.
Por que ele permitira que isso acontecesse? Por que estava dando de mão beijada não apenas sua localização, mas também todos aqueles dados?
- Logiko, seu puto, você não faz nada à toa. O que está planejando por trás disso tudo?
Estaria ele querendo acertar as contas depois de tanto tempo escondido? Dificilmente.
Seria uma armadilha? Muito provável.
Mas com certeza Ele pagaria pra ver. Ele não era do tipo que se esquecia, nem que perdoava. Trancou a porta traseira. Ravage ronronou estranhamente quando passou por cima dela e saltou para o banco da frente.
- Eles não vão acreditar – Falou consigo mesmo. – Mas foda-se!
Iria atrás de qualquer forma: sendo ou não sendo aprovado pelo conselho burocrata. Ligou o furgão e deslizou lentamente pelo estacionamento escuro. Sentia a diferença de peso de Ravage no rendimento do veículo.
- Gato malvado! Vai engordar deste jeito! Parece até que comeu uma cabala inteira!
E riu descontroladamente enquanto fazia a curva desaparecia de vista.

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