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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

21 gramas - Parte II

O chinês entrou e anunciou:
- A srta Umino o receberá. Por favor, deixe seus pertences aqui. Eles estarão aqui quando retornar.
Se retornar, pensou Miguel, enquanto levantava e tentava retirar os amassados deixados em sua roupa, depois de uma noite no chão da sacristia.
Adentrou uma sala completamente branca, com detalhes vermelhos. Luminárias chinesas pendiam do teto, iluminando o tatame, onde Zazael estava sentada, em posição de lótus.
- Eis que o coelho procura a raposa...
Ele engoliu seco: realmente ela sabia o que ele tinha feito.
- Srta Umino...
Ela o interrompeu:
- Podemos nos chamar pelos nossos nomes verdadeiros, Juanes.  Me chame de Zazael.
Ele engoliu seco novamente.
Se encararam durante vários minutos. Foi Zazael quem quebrou o silêncio:
- Sei o que veio fazer aqui, Juanes. A questão é: sua alma não me vale grande coisa. Não sei nem se ela vale a vontade que tenho de separar sua cabeça do pescoço e comer seu coração.
Ele respirou fundo:
- Se não quer, tenho certeza de que Cecília fará bom proveito... ela insistiu muito...
Ela sorriu, mostrando os dentes brancos, perfeitos.
- Você tem bons argumentos, Juanes. Diga qual seu preço!
Ele respirou fundo novamente, tudo saindo como ele pretendia.
- Eu poderia pedir qualquer coisa?
- Se entender realmente o que está fazendo. Sim, qualquer coisa.
Miguel baixou a cabeça.
- Tentador, não? O que um homem realmente quer? Dinheiro? A Mulher amada? Um ente querido de volta à vida? A absolvição de todos os pecados?(risos) Imortalidade? Não posso garantir-lhe a imortalidade, se for o caso, pois, até onde sei, até mesmo Deus morreu aqui na terra. Poderia, por outro lado garantir que você nunca envelhecesse se este fosse seu desejo. Diga, Juanes... o que você realmente quer com tanto afinco que vale sua alma imortal?
Era um beco sem saída.
- Quero matar, apenas com o olhar...
Ela descruzou as pernas, abraçou-as, esticou-as. Miguel ouviu os ossos estalarem.
- Engenhoso. Não preciso dizer que isso não me afetará, pois é parte de nosso acordo, não?
Ele concordou com a cabeça.
- Juanes, em troca de sua alma imortal, lhe concedo o poder de matar apenas com o olhar. Se aceitas, levante-se e aperte minha mão, selando nosso acordo.
Miguel levantou-se a apertou a mão da oriental. Esta se levantou e, delicadamente, soprou cada um dos olhos do matador. Os olhos verdes se tornaram vermelhos.
Ela sorriu, enquanto enxugava o suor da testa com um lenço de seda.
- Cuidado com os espelhos, Juanes...

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