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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Santa Ceia

- TOMEM! EM MEU NOME! - Ele gritou erguendo a caneca de cerveja, enquanto era seguido pelas outras vozes.
- ANGEL! ANGEL! KAMPF ANGEL! - E todos beberam suas canecas de cerveja gritando  e se abraçando. Nenhum notou a herege intenção do anfitrião, que retomou sua fala, depois de um solene arroto, seguido de gargalhadas e atos semelhantes.
- Vocês, nós, meus irmãos... somos os escolhidos! Vocês não estão aqui à toa, vocês não estão aqui sofrendo só pra aprender a atirar, aprender a brigar, aprender a sobreviver... Isso é um teste! Vocês, nós, vamos ser o maior exército da terra! Nós vamos quebrá aquela cidade! Não vai tê polícia, não vai tê chinês, não vai tê ninguém! A gente vai acabar com esta cambada roubando o que é nosso por direito! A gente vai pisar na cara destes pretos, MACACOS FILHOS DA PUTA! A gente vai matar UM POR UM dos que aparecerem na nossa frente! Vai chovê botina nestes filho da puta!!!!
O doutor quase se retirou da sala diante da balburdia e do barulho que esta declaração causou. As paredes tremiam, as mesas pulavam e copos se quebravam diante da euforia dos rapazes.
- Quem aqui ta cansado de ter que ralá pra ganhar dinheiro, enquanto um preto filho da puta ganha bolsa por que tem filhos como quem tem porcos?
- EEEEEEEU!
- Quem ta cansado de cota? Quem tá cansado de dar esmola pra estes FILHO DA PUTA?
Mais uma saraivada de urros e gritos histéricos.
- A gente vai fazer o que é certo! Vocês são só os primeiros! Nós vamos virar um exército e vamos tomar o que é nosso! A GENTE VAI QUEBRÁ TUDO!!! A GENTE FOI ESCOLHIDO! A GENTE FOI ESCOLHIDO PRA MANDA NAQUELA CIDADE!
Até mesmo o doutor era levado pelo carisma sobrenatural do homem que suava na frente de todos, mesmo estando preocupado com o homem doente que ele insistira que viesse participar deste júbilo.
- Traz o 18 aqui em cima, doutor! TRAZ O 18!
- DEZOITO! DEZOITO! DEZOITO!
O rapaz foi levado de cadeira de rodas até o palco improvisado.
- Mostra esta perna pra todo mundo doutor! Aumenta a luz aqui!
O médico retirou o lençol e ajudou o rapaz a se sentar. Todos puderam ver a mancha negra que se estendia pela perna de 18 e sentir o cheiro nauseabundo de suas feridas.
- Dezoito, me diz agora: você acredita na irmandade? - gritou o homem.
- Acredito! - Gritou timidamente o febril soldado.
- Então grita! Então mostra que acredita, 18!
- EU ACREDITO NA IRMANDADE! EUACREDITONAIRMANDADENOPAISENARAÇABRANCA!
Em coro os outros responderam, uniformemente:
- IRMANDADE, PAÍS E A RAÇA BRANCA!
- MAIS FORTEEEEEE! - gritou o homem até o último fio de voz que lhe sobrou.
- IRMANDADE, PAÍS E A RAÇA BRANCA! - gritaram todos juntos, inclusive o médico e o doente cambaleante.
Em meio a todas estas vozes, Angel gritava, enquanto as sombras pareciam se mover ao seu redor, deixando-o nitidamente, maior, luminoso...
- EU ACREDITO QUE VOCÊ ESTÁ CURADO, 18! EU SEI QUE SE VOCÊ ACREDITA EM MIM... SE VOCÊ ACREDITA NA IRMANDADE.. EU SEI QUE VOCÊ VAI FICAR CURADO. POR QUE VOCÊ FOI ESCOLHIDO, 18! POR QUE A GENTE FOI ESCOLHIDO PRA SER O POVO MAIS FORTE DESTE PLANETA!
18 levantou-se e pousou os pés no chão, enquanto gritava junto com o coro "Eu acredito! Eu acredito!" e todos puderam ver suas feridas se fecharem lentamente.
Angel deixou o palco enquanto todos gritavam e jogavam 18 para cima, festejando-o, deixando que cada qual pensasse o que quisesse do acontecido. Estava radiante, estava cheio de fé e orgulhoso do que conseguira sem um único milagre. Sentiu um pouquinho daquilo que imaginava ser a sensação que Ele sentiria nestas situações e então, toda a razão da guerra ficou clara...





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