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sábado, 10 de dezembro de 2011

Tanatos

Ele abriu os olhos com dificuldade e sorriu.
- Sabia que você viria.
Ela tenta sorrir em vão, uma lágrima escorre pelo seu rosto.
- Não poderia deixar você aqui.

 - Há uma guerra, meu girassol. Há uma guerra acontecendo neste exato momento.
Ela passa a mão pelo seu rosto marcado pelas rugas, tirou um lenço da bolsa e limpou o canto da boca do homem deitado.



- Gostaria de entender os motivos desta guerra, Charles. Gostaria mesmo. Tudo sempre não acabará do mesmo jeito? Tudo não acabará conosco nascendo de novo, e de novo, e de novo?

Ele sorriu.

- Eu ouvi eles dizerem, meu girassol, eu ouvi eles dizerem...
Sua frase foi interrompida por uma série de tossidas profundas. Ela se preocupou, amparou sua cabeça que pendia para o lado, de tanto esforço. Minutos depois ele pareceu se recuperar.
- É tudo por poder, Charles. Tudo por poder.
- Não, meu girassol. Eles disseram que quando tiverem reunido poder o suficiente, um ou todos eles poderão mudar o rumo de todos...
Mais uma seqüência de tossidas, a fronha do travesseiro foi manchada de vermelho.
- Isso não passa de besteira, Charles. Deixe-me curá-lo.
Ele levanta a mão e acaricia seu rosto.
- Não, meu girassol. Esta carcaça já esta velha demais. Não poderei ser útil nos tempos que estão por vir. Consigo sentir em meus ossos o som dos cascos marchando. Nossa esperança....
Mais uma seqüência de tossidas e mais sangue foi expelido.
O celular dela tocou, ela o atendeu e com respostas monossilábicas livrou-se do interlocutor.


- Ele é um bom garoto, Charles. Você escolheu bem seu protegido, embora ele tenha feito péssimas escolhas no passado.
- Não podemos culpar pelos erros distantes no tempo. Daí só crescerá o ódio... o coração de nossa espécie é capaz de guardar muito ódio, você sabe...
- E também muito amor...
Ele sorriu... ela pode ver sangue em seus dentes. Segurou o choro novamente.
- Ele deveria estar fazendo isso, Charles, não eu. Ele é indefeso e eu já sei como me defender.
- Por isso mesmo tem que ser você, meu girassol. Não quero que isso caia nas mãos de John tão facilmente. Meu pupilo ainda não está preparado... você poderá guardar o segredo melhor do que ele...

Um período de silêncio seguiu-se, juntamente com mais uma saraivada de tossidas.
- Vamos, meu girassol... eu não terei outros verões...
Ela acariciou seus cabelos grisalhos.
- Eu te amo, Charles... Adeus... mais uma vez...
Ela se inclinava em sua direção, pronta para dar-lhe o beijo definitivo, quando ele sussurrou.
- Até logo, girassol... É só um até logo.

1 comentários:

Unknown disse...

Girassol? Cura? Sou eu, João? :D

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