Pages

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O deserto, as cidades e os homens

Tinham sido pegos de surpresa, embora nem tanto.
O rapaz do guarda-chuva havia saído para recompor-se da ultima batalha: os três haviam conseguido há muito custo pegar o mais fraco deles. Haviam combinado aquele local, no dia anterior, só não contavam que o mais fraco os subestimasse e viesse sozinho.
A luta arrasara parte da cidade fantasma, edifícios foram abaixo, crateras e escombros se estendiam por todos os lados, mas não havia sangue. Aquela era a maior demonstração de que eles não eram humanos: eles não sangravam, embora os golpes tenham sido fortes o suficiente para que fossem ouvidos há quilômetros de distância. Não havia nenhuma testemunha... ninguém presenciava sua dor ou sofrimento... ninguém além Dele.
Não tinha certeza se a luta durara segundos ou horas,já que se moviam rápido como o som e o cenário desmontava enquanto desferiam os golpes, mas uma coisa foi certa, fora o hippie que dera o golpe fatal, entrando em um transe cheio de suores e gritos desde então.
Timothy saíra pelos ares no dia seguinte: ele fora o que mais se machucou: precisava recompor-se. A cidade mais próxima ficava há algumas horas de voo dali.
Fiquei à sombra de uma igreja, que resistira à batalha, com ele em meu colo, enquanto balbuciava palavras sem sentido. Há algumas horas o hippie acordara e dissera simplesmente: Ele está aqui.
Não entendi no começo, mas quando o cofre acertou minha cabeça eu percebi que ele falava de John.
Sua pele era morena, como uma indiana, seus cabelos eram lisos e extremamente longos. Não apresentava deformidades como seus antecessores menos afortunados, apenas um olhar triste e lábios sem vida, dos que nunca mais beijariam ninguém.
Lutamos o quanto pudemos, destruímos o que restava da cidade na tentativa de resistência, mas ela era mais forte, tão forte que seus gritos moviam as poucas nuvens que se projetavam sobre nós e levantava uma nuvem de poeira a cada passo que dava. No final estávamos caídos, esperando pelo golpe derradeiro, quando uma grande tempestade de areia começou, levando-a para longe, enquanto Timothy dizia: Vocês tem de faze-lo: eu não posso sozinho...
Eu e Simon vencemos a batalha alguns golpes depois...e dividimos o espólio.
Cada vez que o rosto de Timothy surgia em uma das recordações era como uma faca que rasgava meu peito. Passei 5 dias desacordada, sob a luz do sol em pleno deserto, sem que o vento ao menos desarrumasse meus cabelos. As visões foram tantas e tão perturbadoras que não posso descreve-las, tão sucessivas quanto as ondas que quebram numa praia todos os dias e tão indesejadas quanto um remédio ruim, mas que você tem que engolir.
Quando abri os olhos, se é que os fechei, O hippie estendeu-me um cantil de água. Sentei-me, bebi da água, que milagrosamente não se esgotava, por mais que eu bebesse.
- Eu o sinto aqui dentro, sabia?
Ele concordou com a cabeça e encarou o chão.
Algumas horas se passaram, acho... não sei ao certo... mas lembro dele dizer algo como "O justo" e "a ameaça do oriente"...
Eu apenas concordei, levantei e segui-o, sem ter muita certeza se era eu que segurava o guarda-chuva ou era o guarda-chuva que me segurava.







0 comentários:

Postar um comentário