Pages

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Planejamento familiar...


- Qual a ocasião, me esqueci de alguma data? – perguntou Abraham quando foi chamado até a sacada e pode observar a mesa ricamente posta e organizada, ao fundo a torre Eiffell lançava luzes azuis sobre os talheres banhados a ouro.
Ela vestia um vestido longo em tons de rosa e parecia excitada.
- Champagne?

- Sim, claro.
Ela o serviu com a garrafa que estava pousada no balde de gelo.
- Tenho boas notícias!

Ele a observou e sorriu:
- Pois diga, já estou ansioso, meu amor. Você conseguiu fechar a compra do iate no...
- Eu estou grávida. É um menino! – e sorriu.
Ele entornou a taça de champagne, suspirou e olhou para o horizonte.
- Prefere a clínica em Amsterdã ou o fará em alto-mar novamente?

O sorriso dela desmanchou-se por completo, o mundo lhe parecia congelado naquele momento.
- Mas eu pensei que agora que os garotos tinham feito a oferta... Eu pensei que estávamos livres para... Eu pensei que...
Ele se dirigiu até o balde de gelo e serviu-se novamente:
- Não podemos nos arriscar. Não podemos ter certeza como o Salgueiro entenderia este adendo ao contrato. 
- Mas os cinco, digo, seis, já fizeram a oferta, o grupo está fechado... Nós podemos continu...
- Para início de conversa, eles não deveriam ser seis. Nem ao menos sei como O salgueiro aceitou a oferta nestas condições. Não podemos nos arriscar.
Ela sentou-se e começou a chorar, borrando toda a maquiagem. Ele caminhou e acariciou-lhe os cabelos:
- Querida, você não pode entender como isso funciona. Você é humana, não uma de nós. Pense em alguma outra coisa, planeje uma viagem. Ainda quer reformar o castelo em Borgonha, não?
Ela não respondeu, limitou-se apenas a soluçar e limpar a maquiagem borrada com o guardanapo bordado em fios de ouro.
Ele beijou-lhe o topo da cabeça e retirou-se: ela precisa de tempo para livrar-se destas expectativas tolas, já deveria estar acostumada, pensou.
No fim daquela noite, enquanto Abraham dormia, ela caminhou até a sacada. Usava apenas uma camisola branca, transparente, que ondulava ao vento de Paris enquanto andava na ponta dos pés.
Subiu no parapeito...
Despiu-se e jogou a vestimenta ao vento...
A camisola rodopiou e distanciou-se algumas dezenas de metros, quando finalmente iniciou sua leve descida em direção ao chão. Ela acariciava sua barriga e chorava.
- Não serei culpada... Não serei mais culpada... Me desculpe...
Ela atingiu o calçada ao mesmo tempo que a seda que jogara.

0 comentários:

Postar um comentário