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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Um corpo que cai. Parte I

A música tocava tão alto que mal conseguia ouvir seus pensamentos, mas era o que eles precisavam. A música os anestesia, ao mesmo tempo que excita. Tudo o que precisava para mais uma colheita. 5000? 6000? Há tempos não conseguia contar mais: a colheita era farta. Usavam bem pouco,poupavam muito para os dias vindouros, para o dia no qual trariam velhos companheiros de volta.
Para isso serviriam os 12 apóstolos, seriam seus braços e olhos onde seus corpos não pudessem estar. presença perigosa mas indispensável nestes tempos, onde seu fantoche principal desmoronava dia-a-dia. Por que aquelas três vadias resolveram fazê-lo? Não que este não fosse o plano mas, por muito pouco, tudo não saíra fora de controle.
Mal sentia a mão de sua consorte, que o acompanhava desde o carro. Os movimentos foram se tornando cada vez mais difíceis, menos precisos, desde  a morte do vasilhame. Hoje mal sentia sua mão tocando a dela, embora seu perfume de meretriz divina chegasse ao nariz de todos, tinha certeza. Não a tolerava, apenas um de seus irmãos apreciava suas carnes. Agora, que ela carregava um filho Nosso, não poderia se dar ao luxo de perdê-la. Que mal havia em fingir que a amava? Se relacionava com estes animais, fingindo o tempo todo...
As mãos lhe tocavam enquanto passava pelo corredor, mal as sentia. Gritavam o nome do vasilhame, não o seu, ISSO O IRRITAVA, mas não importava, desde que houvesse a colheita no final. Eram vacas e ele arrancaria seu couro e carne, no momento certo.
Os 12 estavam sentados em suas respectivas cadeiras, austeros... de terno...
Mas o que é isso?
Que sensação estranha é esta? 
Como se vespas zunissem em seus ouvidos e um furacão se aproximasse pronto para dragar tudo e todos?
Quem chama meu nome?
Quem tem a coragem de...
A perna dobrou para trás enquanto o corpo projetou-se para frente, como faria um louva-deus. Sua mão soltou a de Joana. As luzes do templo piscaram e fizeram estranhos ruídos que acompanharam a queda do corpo de Caleb. Enquanto seu corpo fazia a trajetória, que marcaria o fim de uma era, seus olhos se fechavam, quando atingiu o chão era apenas uma casca vazia... que nunca mais seria usada.
A música ainda continuava, mas ninguém mais gritava. Os apóstolos, com exceção de dois, correram para tentar conter a multidão enfurecida, porém, quando chegaram, só encontraram restos e trapos rasgados. A multidão o adorava, o amava como nada mais.
Devoraram-no para manter o deus dentro deles.

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