Os dois homens de terno caminharam para fora do armário sem
pressa, tentando intimidar seu oponente. Uma tentativa desesperada da máquina
de reaver seu Anjo com defeito e levá-lo para uma revisão completa. Não era a
primeira vez que Adão enfrentava aqueles seres sem rosto, eles eram mandados sempre que a situação pedia alguma
interferência, mas não era possível que um Anjo atendesse o chamado
imediatamente.
O padre respirou fundo e jogou o primeiro deles em direção
aos trilhos, apenas com o gesto de sua mão, deixando que o trem se encarregasse
de fazer o resto do serviço. Olhou para baixo, se certificando de que o mendigo
se encontrava em segurança e atacou o segundo oponente a socos e pontapés.
A luta se estendia, o homem parecia não sentir os golpes, porém
desferia impiedosamente golpes que já haviam acertado o peito e rosto de Adão,
que evocou sua forma Apocalíptica, sem se atentar a dois vigias que observavam
a cena aos pés da escadaria, atônitos ao ver a imagem de um anjo de asas
enormes, vestido de uma armadura impecavelmente branca.
Nesta forma, Adão conseguiu derrubar o homem, que permaneceu
imóvel até que o pegasse pelo colarinho e o arrastasse até a porta do armário,
abrindo-a.
- Diga para ele que não temos medo – disse, segurando o
“rosto” do homem bem próximo ao seu. -
Diga para ele que estamos juntos. Diga para ele que desta vez tudo vai
ser diferente.
Arremessou o corpo para dentro do armário, fechou-o.
Caminhou até o corpo do mendigo no chão, colocou-o nos ombros e caminhou até a
escadaria, enquanto se transformava novamente em humano, diante dos olhares
perplexos dos vigias, que não diziam uma única palavra.
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